[Resenha] A Balada de Adam Henry - Ian McEwan - Viaje na Leitura

23/02/2015

[Resenha] A Balada de Adam Henry - Ian McEwan



Poucos autores de língua inglesa são mais importantes na atualidade do que Ian McEwan. Em quarenta anos de carreira, ele compôs marcos da literatura contemporânea, como Amor sem fim (1997), Amsterdam (1998) e Reparação (2001). Seus livros são conhecidos pela precisão da prosa, pela atmosfera de suspense e estranhamento e também pelas viradas surpreendentes da trama, que puxam o tapete do leitor ao final do livro. Nos últimos anos, o traço decisivo de sua literatura tem sido a defesa da racionalidade científica contra os fundamentalismos religiosos. É esse o embate que está no cerne de A balada de Adam Henry.  A personagem central é Fiona Maye, uma juíza do Tribunal Superior especialista em Direito da Família. Ela é conhecida pela “imparcialidade divina e inteligência diabólica”, na definição de um colega de magistratura. Mas seu sucesso profissional esconde fracassos na vida privada. Prestes a completar sessenta anos, ela ainda se arrepende de não ter tido filhos e vê seu casamento desmoronar. Assim que seu marido faz as malas e sai de casa, Fiona tem de lidar com o caso de um garoto de dezessete anos chamado Adam Henry. Ele sofre de leucemia e depende de uma transfusão de sangue para sobreviver. Seus familiares, contudo, são Testemunhas de Jeová e resistem ao procedimento. O dilema não se resume à decisão judicial. Como nos demais casos que julga, Fiona argumenta com brilho em favor do racionalismo e repele os arroubos do fervor religioso. Mas Adam se insinua de modo inesperado na vida da juíza. Revela-se um garoto culto e sensível e lhe dedica um poema incisivo: “A balada de Adam Henry”. Os sentimentos despertados pelo garoto a surpreendem e incomodam. A crise doméstica e o envolvimento emocional com Adam - que oscila entre a maternidade reprimida e o desejo sexual - desarrumam sua trajetória de vida exemplar, trilhada com disciplina espartana desde a infância. 
“Um estudo assombroso sobre o amor em crise e uma mulher madura no limite de suas forças.” - Robert McCrum, The Observer

Minha opinião - Conforme a sinopse explica, o livro tem foco em dois personagens completamente diferentes: a juíza Fiona Maye, uma mulher de quase 60 anos de idade que está passando por um momento difícil em sua vida pessoal e Adam Henry, um jovem de 17 anos que encontra-se muito doente e irá falecer se não receber uma transfusão sanguínea.
Fiona recebe uma notícia inesperada de seu marido: ele está atraído por outra mulher e quer ter um caso com ela, mas ao mesmo tempo quer permanecer casado. Segundo Jack (seu marido há mais de três décadas), ele quer explorar a paixão, inexistente a anos no casamento. Chocada com a proposta, Fiona apresenta seus pensamentos divididos entre o bem-estar das crianças que aparecem em seu tribunal e seus sentimentos sobre o seu marido e casamento.
O autor mescla muito bem esses dois polos da vida de Fiona. Narrado em terceira pessoa, os parágrafos intercalam os pensamentos pessoais e os relatos de casos terríveis e tristes que ela enfrenta diariamente. A composição de Fiona é tocante e ao mesmo tempo muito real. Ela representa diversas mulheres que possuem um casamento duradouro, mas não necessariamente feliz. Sim, existem bons momentos, companheirismo e até mesmo afeição entre eles, mas isso é suficiente?
Um dos casos acaba se destacando: Adam, um jovem criativo, sensível, carismático e extremamente inteligente. Por questões religiosas, seus pais recusam a transfusão de sangue que pode salvar a vida de Adam.
Fiona decide conhecê-lo no hospital para decidir o seu destino. E um único encontro é capaz de marcar os dois.
A interação é singela e ao mesmo tempo impactante. Adam consegue trazer um pouco de luz na vida de Fiona e os dois começam a influenciar a vida um do outro sem ao mesmo perceber.
Uma das qualidades do livro é a sutileza para discutir assuntos tão polêmicos como religião e casamento. São assuntos cotidianos que permitem a todos uma identificação imediata e até mesmo uma conexão com os personagens.
Adam é jovem e de certa forma inocente, pois não conhece muito além do que foi apresentado a ele. Fiona é uma mulher mais madura, mas ao mesmo tempo inocente. Acredita de coração nas escolhas decentes, que visam o melhor para as crianças. Sua preocupação é o bem-estar dos jovens que passam por seu tribunal. Sua inocência transfere-se também para a vida pessoal, a confiança plena no marido até o momento de sua revelação. É a partir desse momento que ocorre o questionamento do seu casamento.
Não há um ataque as escolhas religiosas ou pessoais. São fornecidas informações para que o leitor tenha capacidade de realizar suas próprias conclusões.
A escrita é dinâmica e fluida, mas seu conteúdo é arrebatador.
"Ergui minha cruz de madeira e a arrastei junto ao rio.Eu era jovem e tolo, e perturbado pela ideiaDe que a penitência era uma asneira e os encargos coisa de idiota.Mas aos domingos me diziam para seguir todas as regras..." (p. 164) 

Edição: 1
Editora: Companhia das Letras
ISBN: 9788535925135
Ano: 2014
Páginas: 200
Tradutor: Jório Dauster
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Avaliação: 4/5
Onde comprar
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7 comentários


  1. o único livro de ian mcwen que eu li foi Reparaçao e me suprendeu muito, me admira que até hoje eu só tenha lido um outor que eu li a resenha e gostei foi Amsterdam até compre i livro e tenho ele aqui, e esse livro A Balada de Adam Henry me chamou atençao.
    obrigada pela resenha !

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    1. Oi Emanoelle, tudo bem?
      O autor tem uma escrita que prende a atenção do leitor não é? Reparação é realmente ótimo!
      Bjkas

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  2. Sei lá... mesmo com a resenha dizendo que o conteudo é arrebatador e tal... não gosto muito de livros assim, até curto livros que dão lição, mais ele me pareceu bem triste. Parabenizo o autor que pelo que você disse, conseguiu tratar muito bem de todos os temas do livro. É uma pena ele não ter me agradado.

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    1. Oi Bruno, tudo bem?
      Eu não chamaria de arrebatador, mas sim reflexivo. O enredo é bem interessante e os temas abordados levam o leitor a pensar.
      Bjkas

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  3. Nunca li um livro desse autor, mas já ouvi falar muito bem sobre os livros dele.
    Não conhecia "A Balada de Adam Henry", mas os temas polêmicos abordados pelo autor na história me deixaram bastante interessada e com vontade de ler para ver como os protagonistas vão enfrentar todos esses questionamentos importantes e para ver de que forma um vai ajudar o outro a superar seus problemas. Casamento sem amor me parece algo muito triste, assim como o livro de forma geral parece ser triste, mas as reflexões geradas por ele parecem valer muito a pena.

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    1. Oi Danny, tudo bem?
      As reflexões valem a pena sim. Não apenas sobre o casamento da protagonista, mas também pelos casos que ela precisa decidir.
      Bjkas

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  4. Com essa resenha fiquei bem curioso pra conhecer algo do autor, que nunca tinha ouvido falar. É ótimo quando um tem o dom em tratar de assuntos polêmicos com maestria.

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